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Brasil teria de fazer de 1 a 3 milhões de testes por dia para conter covid-19, diz relatório

Um dos países que menos faz testagem detecção da covid-19 em todo o mundo, o Brasil precisaria realizar entre 1 e 3 milhões de testes por dia pra conseguir controlar a pandemia, conforme estimativa feita por pesquisadores baianos da Rede Covida, ligada à Fiocruz e Universidade Federal da Bahia (Ufba). Em toda a Bahia, foram feitos pouco mais de 256,6 mil testes nestes três meses de pandemia, conforme o boletim da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) desta terça-feira (22).

Foto: Divulgação/Sesab

Os cientistas analisaram 60 artigos científicos publicados em todo o mundo para fazer o cálculo, que compara as estratégias de testagem adotadas em outros países — que tiveram ou não sucesso no controle — e seus respectivos dados sobre números de infectados e óbitos por milhão de habitantes. 

Atualmente, o Ministério da Saúde recomenda a testagem apenas de pacientes com sintomas, que sejam profissionais da saúde ou da segurança pública em atividade, pessoa que resida no mesmo domicílio que esses profissionais, idosos e portadores de condições de risco para a doença e população economicamente ativa. 

Devido a essas restrições na aplicação dos testes, o Brasil ocupa o 114º lugar em testagem por milhão de habitantes, com pouco mais de 7,5 mil testes para cada um milhão de pessoas, aponta a Rede Covida. E esses números vêm caindo, adiantam os pesquisadores.

No final de abril, eram 4,28 testes para cada caso registrado. Em junho, passou a ser de 1,58 para cada caso. Ou seja, só se testa as pessoas que certamente estão infectadas com o novo coronavírus. De acordo com o relatório, a África do Sul testa 18.929 indivíduos por milhão de habitantes; o Peru, 41.300/milhão e a Rússia, 103.892/milhão.

Os investigadores da Rede CoVida descreveram que a Alemanha, Coreia do Sul e Nova Zelândia, que já estão flexibilizando seus decretos e reativando atividades, adotaram a testagem em massa, incluindo indivíduos sintomáticos e pessoas que tiveram contato direto com possíveis contaminados. Já Itália, França, Inglaterra e EUA demoraram a testar mais amplamente. Já Índia e Afeganistão estão entre os 50 países que menos testam.

No entanto, para os cientistas envolvidos, apenas a realização de testes não será suficiente para controlar a pandemia do novo coronavírus, mas consideram que a testagem ainda é um dos recursos mais importantes para o entendimento do comportamento e da magnitude da doença.

Por outro lado, os pesquisadores reconhecem que a realização de mais de 1 milhão de testes por dia é difícil de alcançar. O teste recomendado a ser realizado é o RT-PCR, que detecta a presença do RNA viral, mas demora para se obter resultados.

“A subestimação do número de infectados e de óbitos por SARS-CoV-2, decorrente de uma estratégia de testagem muito restrita, não reflete a gravidade da pandemia, disseminando uma falsa sensação de segurança. Também dificulta o planejamento, a implementação e a avaliação de ações de saúde”, informa o documento.

Para os pesquisadores é preciso que seja ampliada a capacidade de testes por meio de RT-PCR, de forma a incluir tanto pessoas com sintomas graves quanto leves, permitindo o isolamento oportuno de casos e a quarentena dos indivíduos que tiveram contato.

Além disso, o relatório deixa outras recomendações, como:

  • Realizar testes moleculares prioritariamente em pacientes hospitalizados, indivíduos vulneráveis (que provavelmente exigirão cuidados hospitalares), sintomáticos graves e trabalhadores da saúde. Uma vez que a capacidade de testagem for suficientemente aumentada, os testes podem ser ampliados para casos suspeitos não graves e contatos de casos confirmados. Os testes moleculares informam se um indivíduo está infectado por SARS-CoV-2 no momento do teste e são, portanto, úteis para o diagnóstico da doença.
  • Priorizar o uso dos testes sorológicos para a realização de inquéritos epidemiológicos regulares com amostras representativas da população, de forma a estimar a prevalência da doença e avaliar a progressão da epidemia; e para a testagem em profissionais de saúde, diminuindo o auto-isolamento desnecessário e aumentando a capacidade do setor saúde. Os testes sorológicos identificam anticorpos produzidos pelo sistema imunológico humano e são úteis para a vigilância da doença;
  • Caso haja impossibilidade de ampliar a capacidade de testes, podem ser adotadas estratégias como a testagem por pool, mesmo que implique na redução da sensibilidade do teste. No entanto, é importante ressaltar que essa estratégia só alcança eficácia em cenário de reduzida proporção de testes positivos, como na adoção de políticas mais amplas de testagem ou na ocorrência de surtos isolados;
  • Para acompanhar a evolução dos casos de forma mais fidedigna em um cenário de baixa testagem, deve-se privilegiar o uso do tempo necessário para duplicação. Esse indicador é útil mesmo que a testagem seja realizada em um grupo restrito e se as estratégias de testagem se mantiverem constantes. Um exemplo de estimativa do tempo de duplicação do número de casos nos estados brasileiros é apresentada no Painel da Rede CoVida;
  • Restringir o uso de indicadores muito influenciados pelas estratégias de testagem, como por exemplo, a letalidade, dando preferência à taxa de mortalidade;
  • Comparar indicadores entre os países, considerar ajustes pelo tamanho e composição da população, e pelo estágio da pandemia.

Da Redação- Luciano Reis Notícias, com Correio.