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Sobre o Crime Ambiental na Lagoa do Abaeté em Salvador

Por João Fernando Gouveia, Biólogo e ambientalista

Leandro Almeida Professor e Estudante de comunicação

Desenvolvemos a capacidade e a habilidade de viver na biosfera. Somos parte dela. Estamos inseridos na teia e no contexto da vida que se instalou sobre a Terra há milhões de anos. Por sermos os considerados seres pensantes, reflexivos, capazes de abstrair e ter consciência de si mesmos, gregários, só podemos viver em sociedade, o que nos ensejou a criação de um organismo social complexo, pondo-nos no pedestal da biodiversidade. Esses registros são-me importantes para refletir, para fazer alusão aos crimes ambientais que perpetramos à natureza, ao nosso bioma, à cadeia alimentar e ao nosso contexto ambiental, cultural e societário.

Foto Divulgação

Estar e sentir-se componente do meio ambiente é refletir que ele é uma peça fundamental à existência humana. Em decorrência disso, ele é protegido e assegurado legalmente para uso de todos. Aqui registro todos os seres. Os abusos, as ameaças, as agressões e os efetivos atos contrários e lesivos ao meio ambiente são passíveis de punição. Consta na Constituição Federal disposto no art. 225, registro sobre o meio ambiente como um direito de todos os cidadãos a um meio ambiente sadio, extensivo ao direito à vida, uma vez que sem este não há qualidade de vida.

Foto: Divulgação

Naturalmente por este reconhecimento, é que se impõe à coletividade e ao poder público a responsabilidade por sua proteção. Pois bem, a comunidade de Itapuã, bairro de Salvador, especificamente das redondezas da Lagoa do Abaeté, reconhecendo que o seu patrimônio ambiental está sendo ameaçado e destruído ilegalmente, ilegitimamente, imoralmente devastado para a construção de uma estação elevatória de tratamento de esgotos às margens de suas águas, projeto bancado por entidades governamentais sem discussão com a comunidade, embora esta reconheça que ela pode ser feita em outro lugar e em outras condições e custo, resolveu reagir.

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A visão, a flora e a fauna locais estão sendo destruídas por máquinas e operários de uma empresa contratada para construí-la, ensejando à comunidade tomar em defesa a Lagoa e seu entorno, tentando paralisar essa obra com suas presenças à frente da retroescavadeira. A polícia é chamada, a imprensa convidada se faz presente, medidas cabíveis são apontadas às autoridades, audiências públicas, discussões infrutíferas, ausência dos vereadores que são em tese representantes do povo no município, mas enquanto aguardamos a solução do imbróglio, o rolo compressor voraz, a boiada faminta do lucro do ministro vai avançando depredando a Lagoa.

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Desde junho de 2020, que esse processo foi paralisado por manifestação e intervenção popular que não obteve nenhuma satisfação do governo que nos convença. Agora em 03.08.2020, uma segunda-feira, em plena vigência da dolorosa pandemia, que já dizimou 100 mil brasileiros pela covid-19, diariamente pessoas dessa comunidade e simpatizantes, vem tentando dialogar com as entidades representativas do estado para equacionar e solucionar esse crime ambiental, tentando barrar o labor destrutivo do trator da construtora, sob as vistas de guarnição da Polícia Militar.

Diversas ações foram desenvolvidas para a obstrução desse ecocídio sob as nossas barbas, como a plantação de mudas da mata atlântica, a conscientização comunitária, a ocupação democrática e pacífica com apresentações musicais e um permanente plantão.

Será que só ouvirão os apelos quando houver uma tragédia? Respeitem a vida!

Da Redação- Luciano Reis Notícias.