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“Moro não pode ser descartado ainda”, avalia cientista política sobre eleições

Mais um episódio, na última semana, colocou o ex-juiz Sergio Moro (foto ilustração) no centro do debate sobre o futuro político do personagem central da Lava-Jato, a maior operação no âmbito do combate à corrupção no Brasil. A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a parcialidade do ex-magistrado na condenação do ex-presidente Lula no caso do triplex em Guarujá (SP). A decisão desgastou ainda mais a imagem construída por Moro durante a força-tarefa. Analistas apontam que, no xadrez político para 2022, ele continua sendo uma peça, mas está em uma encruzilhada.

Isso porque, de um lado, tem a opção de pular de cabeça na política e buscar defender seu legado. De outro, pode continuar atuando na iniciativa privada e se manifestar em notas, como tem feito, sempre que alguma decisão atinge a imagem de luta anticorrupção — postura esta que se deteriorou, em especial nos últimos dois anos, seja por decisões judiciais, seja por escolhas pessoais. A primeira delas foi a própria saída da magistratura para atuar em um governo opositor àquele que Moro ajudou a condenar.

Depois, pediu exoneração do cargo de ministro da Justiça, acusando o presidente Jair Bolsonaro de interferência política na Polícia Federal, o que o fez ganhar inimigos e críticos no bolsonarismo. Por fim, foi contratado como diretor de investigações de uma empresa de consultoria americana que representa a Odebrecht, um dos alvos da Lava-Jato.

Assim, Moro, outrora defendido por vários personagens na política que queriam vender a imagem de anticorrupção, hoje tem uma rede de apoio reduzida, como explica o cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo. O ex-juiz não é aceito por partidos de esquerda, de centro nem em muitos de direita. “Acho que só o Podemos continua sendo um partido que sinaliza para o Moro, mas não sei se com a mesma convicção. Ele continua popular, isso é inegável, aparece bem em todas as pesquisas, mas não tão bem quanto antes”, afirma.

Segundo o professor, se a imagem de Moro já estava esgotada no âmbito político, a nova decisão do Supremo ajudou a drená-la mais, mas, desta vez, no âmbito do prestígio na sociedade. Tudo isso mostra que o ex-juiz teria dificuldade de se movimentar, caso decidisse lançar candidatura para presidente ou vice-presidente em 2022. “Antes de ele ir para o governo, era recebido em qualquer lugar. Hoje, experimenta um processo de isolamento”, diz Teixeira.

O analista Melillo Dinis, do portal Inteligência Política, vê o ex-ministro numa encruzilhada, mas afirma que o melhor seria ele continuar fora da política. “A maior contribuição ao legado dele é ficar quieto. Só vai piorar a situação”, opina, dizendo que Moro não tem habilidade na política, tampouco no Executivo.

Ricardo Ismael, cientista político da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), não acredita que sair candidato seja uma boa estratégia para Moro defender o seu legado, visto que, conforme ressalta, o embate, agora, é jurídico. O especialista ressalta que o ex-juiz está desgastado e sofre ataques de várias frentes políticas distintas, o que dificulta a aceitação dele em alguma chapa, ainda que como vice-presidente. “Moro não pode ser descartado ainda, mas as condições políticas para ele, hoje, são muito difíceis para viabilizar uma candidatura”, avalia.

De acordo com ele, caso a decisão da Segunda Turma seja mantida no plenário da Corte, deve ser o fim político de Moro; se não for confirmada, ele terá de buscar apoios e analisar os prós e contras de uma candidatura. Essa questão poderá ser revisitada pelo plenário no próximo mês, quando os magistrados vão avaliar a decisão do ministro Edson Fachin de anular as determinações da 13ª Vara Federal de Curitiba contra Lula. Isso porque, na ocasião, Fachin pediu o arquivamento da suspeição de Moro — dois dias antes do entendimento da Segunda Turma.

Na opinião de Ismael, no caso de não confirmação, Moro estará em uma encruzilhada: decidir sobre entrar ou não na política no próximo pleito. “Não dá para imaginar um candidato sob suspeição. Mesmo sem suspeição, já existe um desgaste de sua imagem. Isso terá de ser avaliado e pesado por ele lá na frente”, diz. O cientista político não vê o Legislativo como uma boa opção ao ex-juiz. “Ele teve muita visibilidade na Lava-Jato, mas, como deputado, será apenas um entre 513”, explica. (CB)

 

Da Redação- Luciano Reis Notícias, via Bahia na Política