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Câmara Municipal de Alagoinhas realiza sessão solene em comemoração ao Dia da Mulher Negra e concede Medalha Tereza de Benguela a 28 mulheres

Por Luciano Reis, Radialista (DRT-8242/BA), da Redação, domingo, 3 de agosto 2025- 22h58, para o Luciano Reis Notícias

Na noite da última quinta-feira (31/7), a Câmara Municipal sediou a sessão solene em comemoração ao Dia da Mulher Negra e entrega da Medalha Tereza de Benguela. O evento, de autoria da vereadora Juci Cardoso e do vereador Luciano Almeida, reuniu a população alagoinhense para refletir o tema “Rainhas Terezas: a Força do Matriarcado das Mulheres Negras”, contando com a palestra da Dra. Carla Akotirene, pós-graduada em Estudos de Gênero, Mulheres e Feminismos.

Na abertura, o presidente da Câmara, Cleto da Banana, ressaltou o marco que a sessão representou para a Casa Legislativa, que se posiciona de forma comprometida com a justiça e equidade de gênero. “A mulher negra brasileira, ao longo de séculos, tem sido a espinha dorsal de nossa história e cultura, sempre demonstrando resiliência frente aos desafios, desde o período mais sombrio da escravidão até os contemporâneos”, declarou. “Seus passos são a história viva de nosso país e suas vozes, quando finalmente ouvidas, revelam a riqueza de uma perspectiva única, forjada na luta e na vitória”.

Fotos – Jhô Paz/Ascom- Câmara Municipal de Alagoinhas

A vereadora Juci Cardoso ressaltou o simbolismo do evento para as mulheres negras, que compõem a base da pirâmide socioeconômica e figuram no topo das estatísticas de vulnerabilidade. Nesse contexto, situou o seu mandato como expressão de resistência frente à invisibilização das contribuições de origem feminina. “Mandato é instrumento. E o nosso é, também, instrumento de visibilidade para tantas das nossas que fizeram revolução: em casa, na comunidade, no trabalho — onde quer que tenham estado”, disse.

Em seguida, a parlamentar evocou a força ancestral do matriarcado afirmando: “São as rainhas Terezas que mostram a força do matriarcado das mulheres pretas. Essa força que permitiu que nós mulheres estivéssemos hoje aqui, no parlamento municipal, mesmo com toda violência que tenta nos arrancar da política. Representatividade é força. É também poder de transformação”.

Também proponente da sessão e autor da lei municipal que instituiu o Dia Municipal e a Medalha de Menção Honrosa Tereza de Benguela, o vereador Luciano Almeida optou por reservar-se de ocupar a mesa principal, em prol do maior destaque para as protagonistas do evento. “Essa menção honrosa, que leva o nome de Teresa de Benguela, personifica cada mulher guerreira que luta diariamente para manter sua vida, sua família, seus sonhos”, exclamou.

Com a mesa composta, abriu-se oportunidade para as falas, momento em que Ana Gonçalves, conselheira municipal de Desenvolvimento da Comunidade Negra e Afrodescendente, expressou a emoção de sentir-se, pela primeira vez, verdadeiramente representada em sua cidade. “Sinto que este é o primeiro ano em que vejo, no meu município, falarmos das mulheres negras não apenas enquanto escravizadas, mas enquanto mulheres com uma história – uma história que vem antes da escravidão. A escravidão tentou apagar esse legado, mas não conseguiu”, declarou.

No mesmo sentido, a presidente do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos das Mulheres, Renata Fortaleza, retomou que, desde cedo, as mulheres negras são marcadas pelo estigma da escravidão. Em sua visão, a condição de “rainha” soma-se à luta pela valorização feminina e da superação de estereótipos. “Somos rainhas e agora temos a oportunidade de assumir de volta nossos tronos, em posições de liderança”, disse. “Hoje mostramos que toda mulher – todas nós – tem o direito de reinar”.

A identificação do mandato legislativo da vereadora Juci Cardoso como figura representativa para que outras mulheres também ocupem espaços de decisão foi ressaltada pelas palavras de Elbênia Ramos, diretora de Políticas para Mulheres e Direitos Humanos da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. “Uma mulher preta, oriunda de um bairro periférico, muitas vezes invisibilizado. O pai não é famoso, a mãe não é famosa. Mas é uma mulher dedicada, que sabe do seu poder e aonde pode chegar”. Ao refletir sobre as conquistas coletivas das mulheres negras, Elbênia concluiu: “Eu olho para onde nós chegamos hoje – e a única coisa que consigo imaginar é: aonde mais nós podemos ir? Meus parabéns, Juci”.

Por fim, coube à coordenadora da Defensoria Pública da Bahia em Alagoinhas, Daniely Oliveira, sustentar que, apesar de a sessão encerrar o Julho das Pretas – campanha nacional voltada à visibilidade e fortalecimento da luta das mulheres negras -, esta causa deve ser de permanente adesão, garantindo a observância das questões de raça e gênero. “Devemos lembrar que nós, mulheres pretas, somos a força motriz deste país. A maioria das famílias é chefiada por mulheres negras, por mães solo, assim esse país se movimenta pela força e pela luta dessas mulheres”, cravou.

Terezas

Após o pronunciamento das componentes da mesa, a Dra. Carla Akotirene conduziu uma palestra potente e comovente sobre o protagonismo das mulheres negras na sustentação histórica e social do Brasil. Reforçou que são elas, as matriarcas negras, que alimentam, cuidam, educam e mantêm o país de pé – muitas vezes sem reconhecimento, enfrentando as desigualdades do racismo estrutural.

Também denunciou o “nutricídio” imposto à população negra e o apagamento de práticas alimentares ancestrais, além da violência institucional sofrida por mulheres de terreiro nos serviços de saúde. Em tom firme, destacou que a justiça, a política e a linguagem ainda operam com base em estruturas coloniais que tentam calar e controlar a mulher negra.

Ao final, sob intensos aplausos, a palestrante convocou as mulheres negras a se comportarem como a água – silenciosa, infiltrante e transformadora. “Vocês não são neguinhas nem malucas. Vocês são as intelectuais que mantêm esse país em pé, mesmo sem serem reconhecidas. Vocês têm a sanidade que fizeram de nós intelectuais, mulheres cujo recurso de fé levanta as montanhas de nossa ancestralidade em Oyó”, exclamou.

Por fim, após apresentações da cantora Preta Mari e da poetisa Alda Pereira, sob o som do Coletivo de Mulheres Capoeiristas, 28 mulheres negras foram homenageadas com a menção honrosa Tereza de Benguela: Amélia dos Reis; Ana Maria; Aneildes Simões; Carmem Persan; Duvalina Bispo; Edinei de Souza; Eliana Marques; Geraldina Lima; Iraci Gama; Jandira Silva; Jerusa Maria; Lucineide Souza; Maria Aparecida; Maria Aurelina; Maria de Fátima; Maria Felipa; Maria José Esmeralda; Maria José dos Santos; Maria Regina; Maria Soares; Maria Trindade; Tereza de Jesus; Terezinha Silva; Yvone Regina; Elizabete de Souza; Iracilda Maria; Helena Soares e Cecília Cardoso — mãe da vereadora Juci Cardoso.

Para assistir a sessão na íntegra, acesse o link: TV Câmara Alagoinhas

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Da Redação- Luciano Reis Notícias, via Ascom – Câmara Municipal de Alagoinhas